segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Jihad

Estamos lutando um Jihad exterior. Toda vez que lutamos contra casos de descriminação, contra leis que estão se tornando cada vez mais draconianas e irracionais, contra qualquer ato de perseguição contra nós por sermos nós. Estamos encarando um ameaça exterior, direta, que não hesita em afirmar com clareza: “vamos te caçar, pedófilo!”. Sabemos que não é uma ameaça à existência da pedofilia, a qual, por ser natural, ficará aqui em nossa humanidade por um bom tempo ainda. Ainda assim é uma ameaça muito clara a cada um de nós pessoalmente, e isso não é difícil de ver. Ao contrário do que eles gostariam de acreditar, não podemos converter ninguém à pedofilia – isso é tão improvável quanto eles nos converterem à teleiofilia. Mas certamente podemos converter algumas pessoas, talvez até muitas, a serem tolerantes e a aceitarem. E eles também temem isso. É por isso que querem nos manter afastados das crianças. Não porque temem que as machuquemos. Não, eles não estão nem aí para isso – se estivessem, não haveria abuso intra-familiar, e nem ocorreriam os verdadeiros casos aterrorizantes de abuso, rapto, violência, assassinato (ou pelo menos seriam tratados com uma maior efetividade). Mas eles ainda nos querem longe das crianças. Porque podemos mostrá-las a verdade; talvez não com palavras, ou pelo menos não somente com palavras, mas com nosso exemplo diário. E uma criança que tenha aprendido a ver as coisas por si própria, sem preconceitos, e a aceitar outras pessoas, não por seus rótulos, mas por seus feitos, é uma criança que nunca será domada para submissão à dominância embrutecedora de quaisquer dos falsos deuses.
Mas estamos lutando uma Jihad interior também. Infelizmente, todos viemos da mesma sociedade que agora tenta nos exterminar. Nós também estamos sob seus feitiços.
Nós também temos que lutar, dentro de nós mesmos, a mesma batalha que estamos lutando externamente. Nós também precisamos ser libertados, precisamos buscar a luz.
Pois, mesmo que saibamos ser diferentes, mesmo que sejamos capazes de perceber toda essa injustiça, eles ainda vão tentar silenciar esses pensamentos criminais em nós, e vão tentar nos convencer que “as coisas sempre foram assim”, “este é o certo”, “você está errado”, “você é sujo e imoral”. E isso é óbvio: desde que todos nós fomos informados, em algum momento, que os pedófilos são o pior tipo de pessoas, e na maioria dos casos isso nos foi ensinado por pessoas importantes em nossas vidas, as quais temos profundo carinho e que certamente nos amam, e que até mesmo nos criaram, então é mais do que lógico que a descoberta de ser um deles nos deixa frente a frente com ameaças diretas aos nossos esquemas mentais: será que sou uma dessas pessoas más? será que meus pais/professores/etc estavam errados? como pode? eles me amam e sempre me educaram da melhor maneira!
É então uma Jihad interior que temos que lutar. Uma Jihad interior, uma batalha dentro de nós mesmos, para nos livrar de uma vez por todas dos preconceitos e das mentiras que a sociedade, com sua lavagem cerebral, nos levou a crer. Uma guerra interior para separar o certo do errado de uma maneira independente, autônoma, que não aceite simplesmente o mainstream, mas que o questione ativamente, a fim de alcançar um melhor e maior entendimento da realidade e de nós mesmos. Uma luta para ver além das cortinas de fumaça dispostas de maneira a manter as pessoas ignorantes e alheias às realidades tão desconfortáveis à perfeita manutenção do sistema. Uma luta, fechando o círculo, para libertar-nos da escravidão, dos falsos deuses utilizados para manter a verdade o mais escondida possível.
Essa Jihad interior significa exterminar até o último traço de sentimento de culpa causado por anos de propaganda anti-pedofilia, anti-sexual, anti-amor e anti-afeição, à qual estivemos inevitavelmente mergulhados, sem nosso consentimento, e contrariamente aos que realmente seria saudável a humanamente aceitável. Faz-se necessário estar consciente que o que quer que qualquer pessoa diga de mim, ou daqueles como eu, não é verdade. Somente eu sei que sou. Ninguém pode dizer quem sou melhor do que eu posso. Cada um conhece a si próprio, e qualquer um que finja ter acesso a um conhecimento maior com o intuito de querer te dizer o que você realmente é está certamente mentindo, e possivelmente o faz movido por interesses escusos.
É por isso que, aceitar o que eles dizem que somos é como se abríssemos um buraco nos muros do castelo. Você não pode vencer a Jihad exterior se primeiro você não venceu a Jihad interior. Não se pode vencer a guerra de Tróia deixando o cavalo de madeira entrar na cidade.
Pode ser que você ainda se sinta automaticamente ofendido e revoltado quando ouve falarem dos pervertidos nos jornais, mas isso é só uma máscara, uma máscara que você precisa usar para se proteger. Pode ser que, baseado no seu próprio exemplo, você ache que nem todos os pedófilos são monstros, mas ainda que você ache que uma minoria, ou que uma maioria o seja, você ainda tem que portar essa máscara. A batalha está acontecendo nas profundezas de sua mente. Mas você sabe melhor que ninguém. Você conhece seu segredo. Você gostaria de poder partilhá-lo. Você gostaria de poder expressá-lo sem temores. Ou, alternativamente, você gostaria de poder livrar-se dele.
Você pode procurar todo tipo de atividade que o mantenha distraído, longe de garotas por muito tempo, em alguns casos talvez para sempre. Mas você nunca conseguirá apagar completamente esse sentimento de seu ser. Da mesma forma que você jamais irá se esquecer de sua língua nativa, mesmo se você não mais a utilizar em seu dia-dia, você nunca vai deixar a pedofilia para trás, porque ela não é algo exterior a você; ela está dentro de você, e como tudo que está dentro de você, a coisa mais saudável e produtiva a se fazer é aceitá-la. Alguns conseguem aceitá-la tão logo a descobre em si; alguns demoram um longo tempo, tomando vários desvios por uma ou algumas das outras opções. Mas em quaisquer dos casos, a aceitação é a fundação necessária sobre a qual você conseguirá construir uma vida saudável como pedófilo. Sem aceitação, você não terá confiança em você mesmo para continuar a crescer como ser humano, porque será como um grilhão em sua mente, impedindo que você atinja todo o potencial de suas capacidades. Sem aceitação, você não poderá enxergar através das mentiras e distorções da mídia, do estado e da igreja (e, mais freqüentemente ainda, da escola e da família) para saber como melhor se posicionar para manter-se afastado deles. A aceitação faz de você um ser humano mais completo, por abraçar até aquilo em você que muitos odeiam; permitindo que você cresça emocionalmente, independente das visões predominantes; e armando você com a mais poderosa de todas as armas – a consciência de que, como ser humano, você é valioso e tem controle sobre si próprio. É claro que se você não se aceitar você ainda poderá ter uma vida mediana, mas você jamais conseguirá alcançar a confiança e controle completos que somente a aceitação pode prover.
Não nos vejo (ainda que fôssemos uma comunidade) nem mesmo chegando perto do que seria uma grande Jihad. Isso dependeria de todos. Aceitação não vem de fora; não há nada que outrem possa fazer, exteriormente, que leve alguém a aceitar a si próprio.
Cada um precisa aprender a se aceitar por seus próprios meios. Cada um precisa tomar o caminho que melhor se adéqüe a sua vida, ideais e experiências. Mas é impossível não se aceitar. Se perdermos a batalha interior, não haverá possibilidade de vencer qualquer batalha exterior, por qualquer objetivo que seja.

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